LIVRO 5

O título do livro 5 é inspirado no Diccionario de medicina popular (…) do Dr. Chernoviz, publicado em 1890.

1501, As Moçorós reconta a história da primeira exploração oficial do Brasil, liderada por Gonçalo Coelho, que foi atacada pelas mulheres Moçoró (ou Mouxoró ou Mossoró), no Rio Grande do Norte, conforme Eduardo Bueno em Náufragos, traficantes e degredados (2016). O poema é em redondilha maior e agradeço demais a André Capilé e Carol Peters pela revisão da métrica!

1646, Tejucupapo
A batalha de Tejucupapo aconteceu na atual cidade pernambucana de Goiana, entre forças holandesas e brasileiras, esta composta sobretudo das mulheres do povoado, em 24 de Abril de 1646.

1650-1720, Confederação dos Kariri foi um movimento de resistência de diversas nações indígenas do nordeste brasileiro, contra a dominação portuguesa e o latifúndio. O verso “na sela dos paulistas” se refere ao “terço dos paulistas”, termo usado para designar o terço militar criado para atender a Ordem Régia de 1695. A ordem decretava que se levantasse 1/3 de paulistas para a guerra contra os indígenas coligados (ver A Guerra dos Bárbaros: Povos indígenas e Colonização do sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720, de Eduardo Puntoni). O verso “bora noiada” é referência à maravilhosa @melpereira__ no seu hino “o dia que eu levei o fecho de uma noiad4“.

1719, Confederação de Mandu dos Abelhas foi um movimento de resistência indígena em que diversas nações da capitania do Piauí, liderados por Mandu, se organizaram contra latifundiários, entre 1712 a 1719. O nome “oficial” é Revolta de Mandu Ladino, mas “revolta” não dá conta das complexas coalizões que Mandu conseguiu tecer entre diferentes povos. Além disso, “ladino” é um adjetivo desqualificante, então preferi usar o nome do povo ao qual ele pertencia, os Abelhas – “assim chamados porque conviviam harmonicamente com as abelhas teúbas na região“.

1817, Revolução Pernambucana foi um movimento liberal e republicano em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, o único do período de dominação portuguesa que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo de tomada do poder. Dentre outras causas, destacam-se os enormes gastos da Família Real, recém-chegada ao Rio de Janeiro. Os estados eram obrigados a enviar para o Rio o dinheiro necessário para custear a vida nababesca da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais, gerando grande descontentamento no povo, mas sobretudo nas elites nordestinas, que encabeçou o movimento em seu proveito.

1825, Revolta dos Pêgas foi um protesto organizado pelos indígenas Pêgas, da Paraíba e Rio Grande do Norte, pelas constantes expulsões de seus territórios, de acordo com os interesses dos latifundiários locais. Depois de serem levados para a região que hoje se chama Polo Serrano, onde foram alocados em terras onde não dava nem pra plantar nem criar nada, os indígenas organizaram um motim, liderados por Luiza Cantofa e João dos Pêgas. Os revoltosos foram capturados e fuzilados no caminho para Natal. Seu João conseguiu sobreviver se fingindo de morto, imóvel por horas no meio dos corpos. Luiza Cantofa e sua neta, Jandy, conseguiram fugir, mas Cantofa, já idosa, foi alcançada e apunhalada pelas costas. Já o destino da neta é desconhecido.

1814-1835, Quilombo do Catucá foi um dos quilombos mais importantes da história do Brasil. Também conhecido como Quilombo de Maluguinho, ia da Zona da Mata Norte até os subúrbios do Recife, com núcleos dentro das matas da floresta do Catucá, nos mangues e rios da Ilha de Itamaracá, passando por Tejucupapo e chegando à fronteira da Paraíba. Malunguinho é um dos meus heróis: uma pessoa (ou várias pessoas?) que existiu de verdade (há documentos que comprovam não somente sua existência, mas sua luta e a forma como foi duramente perseguido pelo sistema judicial pernambucano), lutou coletivamente pela liberdade de seu povo e foi alçado à categoria de divindade na Jurema, no Toré e no Catimbó, justamente por conta de sua atividade revolucionária e abolicionista.

1852, Levante dos Marimbondos foi uma série de protestos, ocorridos entre 1851 e 1852, em várias províncias nordestinas, contra o decreto que instituía o primeiro Censo demográfico brasileiro. A BBC Brasil descreve o conflito como “a desconhecida revolta popular armada que barrou o primeiro censo no Brasil, em 1852“. Os trabalhadores e camponeses, livres ou alforriados, viam a passagem dos registros da Igreja para o Estado como uma estratégia das elites para compensar a falta de mão-obra, consequência da Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico de escravizados para o Brasil. Para os revoltosos, o censo seria uma forma de identificá-los e levá-los de volta à escravidão. Escrevi texto para a exposição Zum Umzug (H4Media Museum, Berlim, 2024), que fala um pouquinho do Levante dos Marimbondos.

1872-1877, Quebra-Quilos foi uma revolta complexa e multifatorial, ocorrida no Nordeste do Brasil. Oficialmente, nasceu da insatisfação dos pequenos agricultores com a padronização do sistema de pesos e medidas. Mas era, na verdade, uma série de protestos contra a arbitrariedade dos coroneis, a falta de alimentos, a carestia e o alistamento militar obrigatório.

1875, Motim das Mulheres foi um dos episódios mais interessantes dos Quebra-Quilos. O momento mais famoso do motim aconteceu em Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde cerca de 300 mulheres saíram pelas ruas da cidade, em protesto contra a obrigatoriedade do alistamento militar. Armadas com utensílios domésticos, elas invadiram repartições públicas e delegacias, além da redação do jornal O Mossoroense, rasgando papéis e documentos que convocavam seus filhos e maridos para o Exército ou para a Marinha. Sobre o verso “Nesse dia, mas só nesse”: na verdade elas não marcharam nem no mesmo dia, nem lado a lado literalmente, apenas ideologicamente – pois a “prêta já velha” (que existiu de verdade) marchou nos arredores de Canguaretama, no começo de agosto de 1875, e as três mulheres mencionadas no poema, em Mossoró, em 31 de agosto do mesmo ano. As duas cidades ficam a 375km uma da outra.

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  • O Manifesto Comunista em cordel
    Antônio Queiroz de França (Tupynanquim Editora, Fortaleza-CE, 2017)
  • Antonio Conselheiro: presidente de Canudos e profeta do sertão
    Ivaldo Batista (Editora Coqueiro, Recife-PE, 2019)
  • O encontro de Lampião com a coluna Prestes (e outras histórias)
    Filipe Belemita (autopublicação, Recife-PE, 2021)
  • Maria Bonita, uma rainha para o cangaço
    Ivaldo Batista e Kyldemir Dantas (Editora Coqueiro, Recife-PE, 2019)
  • É assim que a gente fala!
    Janduhi Dantas (autopublicação, Juazeirinho-PB, 2021)