LIVRO 2

agora que me encontro
No verso “perneta e perigosa” me refiro à cangaceira Dadá, uma das muitas figuras em que Vashti é inspirada. Dadá sobreviveu à emboscada que matou seu companheiro, Corisco, mas foi baleada na perna direita e, na prisão, vivendo em condições desumanas e insalubres, o ferimento gangrenou e a perna foi amputada. No período que esteve presa, ela se sustentava costurando embornais (saco de couro para armazenar mantimentos).

Já “anã paraguaia” é uma citação de Adelaide, música lançada no fim dos anos 80 por uma banda chamada Inimigos do Rei. A letra da canção é capacitista, xenofóbica e machista, refletindo o espírito da época, e foi a trilha sonora dos bullyings que eu sofria dentro e fora do ambiente escolar. Até hoje quando eu me apresento nos canto ainda tem arrombado que canta essa porra pra mim que ódio kkk.

Atenção: ASMA contem passagens violentas e terminologias politicamente incorretas, como é o caso de “perneta”. O uso desses termos corresponde à forma como se falava sobre minorias sociais, no tempo vivido pela personagem (550 a.C). Autora e editores não endossam o uso desses termos entre pessoas reais, no século 21. Para um letramento em linguagem inclusiva, favor visitar https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/estilos/linguagem-inclusiva.

Conforme indico na nota introdutória de ASMA, “Usei, em alguns poemas, termos que evocam alguns preconceitos – infelizmente, no mundo pelo qual andamos (e pelo qual anda Vashti) as palavras foram e são usadas como instrumento de opressão. Não poderia construir essa história fingindo que as palavras não são ferramentas a serviço de violência (e de resistência!) porque elas integram, ainda que à nossa revelia, a trajetória dos seres femininos (e de outros grupos) ao longo da história”.

passado o primeiro susto menciona uma certa Nise pela primeira vez, que aparecerá outras vezes no decorrer do LIVRO 2, meio como anjo da guarda de Vashti durante seu tempo de clausura. A personagem Nise é uma homenagem à camarada Nise da Silveira que, entre muitos outros feitos espetaculares, foi companheira de cárcere de Graciliano Ramos, que escreve sobre ela com enorme respeito e carinho em Memórias do Cárcere. Permínio Asfora dedica Vento Nordeste (um dos livros mais importante para ASMA, ao lado das Memórias de Graciliano), a “Nise Silveira, a amiga”.

páginas adiante aprendo tem como premissa o conceito do não-desaparecimento dos povos originários, defendido por várias organizações indígenas. O poema contém trechos do texto publicado pela Frente de Articulação e Organização dos Indígenas da Nação Kariri no Siará (Retomada Kariri-Siará).

IDA HO nasceu de You a Tuesday, poema em red doc>, de Anne Carson. O resto são as vozes da minha cabeça, trocadilhos de tiozão e história do rap e da música pop.

o que ela quis dizer quando falou “calma, monga” e reclamou é inspirado na parte 1 do capítulo 6, em Omeros, de Derek Walcott (ver edições utilizadas nas notas do LIVRO 1), quando a personagem Helena mostra a bunda para um gerente de hotel, que não quis contratá-la como garçonete, por considerá-la “selvagem” demais.

garrote, véi foi inspirado nas histórias de Salvador Puig Antich (último preso político executado por garrote, na Espanha, em 1974) e meus amigos Boni + Nanda, todos militantes antifascistas, que lutaram contra a ditadura de Franco. Uma versão desse poema foi publicado no finado Suplemento Pernambuco (RIP), em junho de 2023.

A terra foi escrito com vários poemas de Ferreira Gullar em O vil metal.

Autobiografia literária na Idade do Ferro e Autobiografia literária no Capitaloceno são duas releituras do poema Autobiographia Literaria, de Frank O’Hara, em Selected Poems.

Valsinha da mulher pobre #1 e #2 são duas releituras de A casa, poema de Vinícius de Moraes para o disco A arca de Noé.

outras leituras que orientaram esse capítulo:

(AUTO)BIOGRAFIAS

  • Memórias do cárcere
    Graciliano Ramos (Lisboa: Círculo de Leitores, 1974)
  • Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo
    Mário Magalhaes (Cia das Letras, 2012)
  • O Cabeleira (romance biográfico baseado na história de José Gomes e seu pai Joaquim, considerados precursores do cangaço)
    Franklin Távora (Martin Claret, 2014)
  • Assata: an autobiography
    Assata Shakur (Chicago: Lawrence Hill Books, 1987)
  • Memoirs from the women’s prison
    Nawal El Saadawi
    Tradução árabe-inglês: Marilyn Booth (Londres: Zed, 1986)
  • An autobiography
    Angela Y. Davis (Dublin: Penguin, 2021)
  • Seis años de mi vida (1939-1945)
    Federica Montseny (Córdoba: Almuzara, 2019)
  • “Barcelona, 1936” & Selections from the Spanish Civil War Archive
    Muriel Rukeyser (University of NY: The Cuny Poetics Documents Initiative, 2011)

POESIA

PROSA

  • Tereza Batista cansada de guerra
    Jorge Amado (Lisboa: Círculo de Leitores, 1983)
  • Company/Ill seen ill said/Worstward Ho/Stirrings still
    Samuel Beckett (Faber and Faber, 2009)
  • Westward Ho! An activity guide to the wild west
    Laurie Carlson (Chicago Review Press, 1996)

TEORIA e HISTÓRIA

  • Trópico dos pecados: Moral, sexualidade e inquisição no Brasil
    CAPÍTULO 5: Mulheres nefandas

    Ronaldo Vainfas (Civilização Brasileira, 2010)
  • Revolting prostitutes: the fight for sex workers’ rights
    Juno Mac e Molly Smith (Londres: Verso, 2018)
  • The feminist and the sex offender (confronting sexual harm, ending state violence)
    Judith Levine e Erica R. Meiners (Londres: Verso, 2020)
  • Carceral capitalism
    Jackie Wang (South Pasadena: Semiotext(e), 2018)
  • Por que ocupamos? Uma introdução à luta dos sem-teto
    Guilherme Boulos (Scortecci Editora, 2012)
  • Para a Questão da Habitação
    Primeira Secção (Como Resolve Proudhon a Questão da Habitação)
    Segunda Secção – Como Resolve a Burguesia a Questão da Habitação
    Friedrich Engels, 1873
  • La Guerra Civil al Bruc
    Gemma Estrada i Planell (Barcelona: Publicacions de l’Abadia de Montserrat, 1995)
  • El Bruc: el medi, la història, l’art
    Gemma Estrada i Planell (Barcelona: Publicacions de l’Abadia de Montserrat, 1991)
  • Pedaços da guerra espanhola: seis histórias de vida tobarrenhas
    Dante Marcello Claramonte Gallian (EdUFSCar, 2011)
  • Schriftsteller in Waffen – die Literatur und der Spanische Bürgerkrieg
    Frederick. R. Benson
    Tradução inglês- alemão: Alfred Kuoni (Freiburg: Atlantis, 1969)

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