LIVRO 6

No meio do caminho dei um braço a Seu Leônidas
Seu Leônidas existe mesmo, é um agricultor aposentado de Poção, no agreste pernambucano, que conheci em 2023, no ônibus Recife-Serra Talhada <3 Tagarelamos quatro horas seguidas, até eu descer em Sítio dos Nunes, mas ele ainda seguiu viagem. Já a história contada na estrofe 4 vem da dissertação de mestrado SELECIONAR, CONTROLAR E DISTRIBUIR: o instituto nacional de imigração e colonização e a política imigratória brasileira (1952-1955), de Amanda Pereira dos Santos. Uma licença poética: em 1939 a moeda brasileira era os mil-réis, mas os dados apresentados por Pereira dos Santos são da década de 50, quando era o cruzeiro que estava em vigência. No poema, uso mirréis como gíria, mas também porque não há cronologia exata no poema, que passa pelos anos 30, 50, 90 e 2000.

Quando finalmente chegamos em Montes Claros,
Sobre o crachá de identificação com fins discriminatórios: ao contrário do que dizem algumas fontes, de que a obrigatoriedade do uso da estrela amarela por judeus no período nazifascista só começou em 1941 na Polônia, a identificação forcada de judeus durante a II guerra começou já em 1939. Em 1939, o presidente do Brasil era Getúlio Vargas, que foi, pelo menos por um período, colaborador do Eixo – e foi nesse ano, nesse governo, que surgiu a ideia de implementar a identificação de nordestinos em Minas… Não posso afirmar veementemente que o crachá de nordestino foi inspirado na estrela amarela, porque não achei nenhum documento oficial admitindo a inspiração – mas que dá para especular que foi, dá (por isso que falo, no poema, que a medida tem perfume de nazismo, em vez de dizer que é receita nazista). Vale contextualizar que a estrela amarela é usada há séculos, e a recusa no seu uso era criminalizada, como demonstram, por exemplo as Ordenações Filipinas (ver nota do poema “Se é que dá pra chamar isso de lei”).  

a jornada das migas
“se a vida tem começo, eu penso que nunca finda” é uma fala de Rosálio em O Voo da Guará Vermelha, de Maria Valéria Rezende. “quanto mais trabalhador entisica, mais proprietário engorda” é um ditado popular que aparece em Vento Nordeste, de Permínio Asfora, que era o livro preferido de vovô e uma das principais referências para ASMA.

PROSA

  • Vento Nordeste
    Permínio Asfora (Civilização Brasileira, 1982)
  • Seara Vermelha
    Jorge Amado (Livraria Martins Editora, 1965)
  • Outros Cantos
    Maria Valéria Rezende (Alfaguara, 2016)
  • O voo da guará vermelha
    Maria Valéria Rezende (Alfaguara, 2014)
  • O corpo interminável
    Claudia Lage (Record, 2019)
  • I know why the caged bird sings
    Maya Angelou (Ballantine Books, 1969/2015)
  • Cem anos de solidão
    Gabriel García Márquez (Publicações Dom Quixote, 1967/1988)
  • A dor
    Marguerite Duras (Ed. Nova Fronteira, 1986)

POESIA

  • Solo para vialejo
    Cida Pedrosa (Cepe, 2019)
  • Poesia comprometida com a minha e a tua vida
    Thiago de Mello (Moraes Editores, Lisboa, 1976)
  • POEMAS
    Maiakóvski traduzido pelos irmãos Campos e Boris Schnaidermann (Perspectiva, 1967/1982)
  • Madwomen – the Locas Mujeres poems of Gabriela Mistral
    edição bilíngue editada e traduzida por Randall Couch (The University of Chicago Press, 2018)

TIURIA e HISTÓRIA

  • A terra e o home no Nordeste
    Manuel Correia de Andrade (Ed. Brasiliense, 1973)
  • O outro Nordeste
    Djacir Menezes (Artenova, 1970)
  • O genocídio do Nordeste (1979-1983)
    organizado e editado por CPT, CEPAC e Ibase, 1989
  • Viagem pelo Brasil 1817-1820 (especificamente volumes 2 e 3)
    Spix e Martius (Edusp, 1981)
  • Late Victorian Holocausts: El Niño Famines and the Making of the Third World (especificamente o capítulo 12 “Brazil: Race and Capital in the Nordeste”)
    Mike Davis (Verso, 2019)
  • Selecionar, controlar e distribuir: o Instituto Nacional de. Imigração e Colonização e a política imigratória brasileira (1952-1955)
    Amanda Pereira dos Santos (Unesp, 2022)
  • Holocausto brasileiro
    Daniela Arbex (Geração Editorial, 2013)
  • Migrações Nordestinas no Século 21: um panorama recente
    Ricardo Ojima e Wilson Fusco (Editora Edgard Blücher, 2014)
  • Mistaken identity: race and class in the age of Trump
    Asad Haider (Verso, 2018)
  • Brazil Apart – 1964-2019
    Perry Anderson (Verso, 2019)
  • Dichtung ist Revolution: Kurt Eisner, Gustav Landauer, Erich Mühsam, Ernst Toller
    Laura Mokrohs (Friedrich Pustet, 2018)
  • A poética de Maiakóvski através de sua prosa
    Boris Schnaidermann (Perspectiva, 1971)

SOBRE MIGRAÇÃO INTERNA: ARTIGOS, TESES, RELATÓRIOS, REPORTAGENS etc.

SOBRE OUTROS TEMAS: ARTIGOS, TESES, RELATÓRIOS, REPORTAGENS etc.