Quando foi que isso começou? é uma fala de Menelau em Orestes, de Eurípides, na tradução de Anne Carson (“When did that start?”). Os últimos versos deste poema vêm de Luís da Câmara Cascudo em Tradições populares da pecuária nordestina (1956).
E como devo me dirigir a você? é uma fala d’O Coro em Agamenon, de Ésquilo, na tradução de Anne Carson (“How should I address you?”). As bolinhas de papel com uma pedrinha dentro foi uma tática real da resistência francesa e dos deportados para campos de concentração; uma parte dessa história está contada em A dor, de Marguerite Duras, que ganhei de presente de Clarissa Galvão, que comprou o livro na maravilhosa Livraria e Sebo Progresso, no centro do Recife.
Onde começam seus cânticos de deus e de dor? é uma fala d’O Corifeu, em Agamenon, de Ésquilo, na tradução de Robert Fagles (“Where do your words of god and grief begin?”). O poema é uma homenagem a um dos mamíferos que mais caminha no mundo, o Jumento Selvagem da Mongólia que, além de ser um caminhante resiliente, convive com maestria com o bioma do Deserto de Gobi, sabendo identificar fontes de água potável subterrâenas e possuindo técnicas específicas para cavar bebedouros coletivos. A ferrovia Transmongoliana dividiu o país em dois e consequentemente os jumentos, mas em 2020 uma jumenta corajosa cruzou a fronteira.
Fale-nos de sua terra, de seu nascimento, de sua vida é uma fala de Atena em As Eumênides, de Ésquilo, na tradução de Robert Fagles (“Tell us your land, your birth, your fortunes”). A história de Roderich, Felipa e Anna Linz é real e está registrada parcialmente em Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil — Denunciações e confissões de Pernambuco, 1593-1595, entre outras inúmeras fontes.
E quem é responsável por isso? é uma fala d’O Coro em As Coéforas, de Ésquilo, na tradução de Robert Fagles (“Who can account for that?”). A premissa do poema vem de Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, na tradução do Coletivo Sycorax. As duas primeiras estrofes são colagens de trechos do livro.
Tu trabalhava num café, perdesse o emprego, aluguel atrasado sete meses, eras uma desconhecida… O teu ganha-pão, qual é? A desgraça dos outros? foi uma pergunta para Mariana Ferrer, feito pelo advogado de defesa do homem acusado de estuprá-la. Esta passagem específica pode ser vista aqui.
Quem – qual poder nomeou àquele que selou teu destino? é uma fala d’O Coro em Agamenon, de Ésquilo, na tradução de Robert Fagles (“Who – what power named the name that drove your fate?)”. A premissa do poema vem de Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, na tradução do Coletivo Sycorax.
E quem te persuadiu? Quem te aconselhou? é uma fala d’O Corifeu em As Eumênides, de Ésquilo, na tradução de Robert Fagles (“And who persuaded you? Who led you on?”). A premissa do poema vem de Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, na tradução do Coletivo Sycorax. Seu Adriaen do poema é o colonizador holandês Adriano do Dussen.
Que tipo de miragens te perseguem? é uma fala de Menelau em Orestes, de Eurípedes, na tradução de Anne Carson (“What sort of visions plague you?”). A premissa do poema vem de Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, na tradução do Coletivo Sycorax. A primeira estrofe é uma colagem de trechos do livro.
Você chegou a temer alguém? é uma fala d’O Arauto em Agamenon, de Ésquilo, na tradução de Anne Carson (“You’ve come to fear someone?”). O primeiro verso é de Adília Lopes, em A Elisabeth foi-se embora (do livro O decote da dama de espadas, 1988). Adília, por sua vez, está parafraseando You, Doctor Martin, de Anne Sexton (no livro To Bedlam and part way back, 1960). Salomé é a suposta parteira e/ou babá de Jesus e considerada uma das figuras mais misteriosas do Novo Testamento, cujo túmulo se encontra entre Jerusalém e a Faixa de Gaza. Jordão Baixo é uma parte de Jordão, bairro da periferia sul de Recife e um dos mais negligenciados da cidade.
E quem mais está contra você? é uma fala de Menelau em Orestes, de Eurípedes, na tradução de Anne Carson (“And who else is against you?”).
Você sabia que isso era contra a lei é uma fala de Creonte em Antigo Nick, a versão de Anne Carson para Antígona, de Sófocles (“You knew it was against the law”). O terceiro verso da primeira estrofe é uma homenagem a um dos personagens de Vento Nordeste, de Permínio Asfora.
Me diga uma coisa: por que você vive desse jeito? é uma fala de Electra em Electra, de Sófocles, na tradução de Anne Carson (“Tell me: why do you live that way?”). O poema é inspirado na vida da cangaceira Dona Sila, e contém trechos de sua entrevista para a revista TPM, em 2001.
Por que você acha que está aqui? é um trecho de Rehab, de Amy Winehouse. A primeira estrofe lista alguns títulos de algumas gravuras do Caderno C, de Goya, uma série de desenhos que retrata e critica o sistema prisional espanhol na época da Inquisição (o véio era foda demais <3). Clique aqui para a lista completa de gravuras, com indicação de quais foram usadas em ASMA.
Lei é lei é uma fala d’O Coro em Agamenon de Ésquilo, na tradução de Anne Carson (“Law is law”). O verso que abre o poema é uma das primeiras coisas que Antígona fala no seu interrogatório (“If you call that law”), na tradução de Carson para Antígona, de Sófocles. O poema é um resumão das Ordenações Filipinas, compilação jurídica que vigeu de 1595 até 1867, em Portugal, e até 1916, no Brasil, quando foi revogado pelo Código Civil brasileiro. No poema, listo vários “crimes” de sobrevivência que tinham como pena o degredo para o Brasil. Alguns deles parecem absurdos, mas nada no texto foi inventado por mim, tá tudo lá!
E isso porque você queria alguma coisa, não é? Você queria dinheiro. Você queria aparentar ser uma vítima nobre? foi uma pergunta feita para Amber Heard, pela advogada de de Johnny Depp. A pergunta está na página 4948 dos autos do processo. A premissa do poema vem de Jorge Amado em Jubiabá, de Yann Moulier Boutang em De la esclavitud al trabajo asalariado e Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, na tradução do Coletivo Sycorax.
Você acha mesmo que dá para acreditar no seu testemunho? foi uma pergunta feito pelo inquisidor Dom Francisco Mendo Trigoso, o Bispo de Viseu, para Maria Duran, queer e andarilha, num interrogatório de 8 de julho de 1741 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, processo n° 9.230, fols. 98v-99r, localizado por Francois Soyer para seu livro Ambiguous Gender in Early Modern Spain and Portugal Inquisitors, Doctors and the Transgression of Gender Norms, página 245). Duran foi presa pela Inquisição de Lisboa, depois de ter fugido de um marido de abusivo, cruzar a fronteira da França para a Catalunha a pé, vestida de homem, até chegar em Lisboa, e supostamente ter várias amantes no caminho (inclusive freiras!). Depois de três anos presa e torturada, Duran foi exibida pelas ruas de Lisboa num auto-de-fé e condenada ao degredo. Seu destino é desconhecido, mas dizem que ela foi parar em Recife ;) As punições que aparecem no poema estao listadas Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, na tradução do Coletivo Sycorax, nos textos acerca do Caderno C de Goya e em diversos artigos que resgatam a história do assim-chamado “trem de doido”.
Então se defenda das acusações, se a confiança nos seus direitos a trouxe até aqui é uma fala de Atena em As Eumênides, de Ésquilo, na tradução de Robert Fagles (“Then defend yourself against their charges, if trust in your rights has brought you here?”). A informação técnica vem do site do Ministério Público do Paraná.

outras leituras que orientaram esse capítulo:
ARTIGOS, TESES, RELATÓRIOS e REPORTAGENS (e um capítulo d’O Capital kkk)
- “Não existe doce ruim, nem cabra bom” – a invenção de um conceito para os trabalhadores do Cariri Cearense, século 19
Ana Sara Ribeiro Parente Cortez Irffi no 28° Simpósio Nacional de História, Florianópolis, 2015 - Imigrantes palestinos, identidades brasileiras: compreendendo a identidade palestina e as suas transformações
Hissa Mussa Hazin em disssertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016 - A pomba-gira cigana no candomblé do sertão: subversões e peculiaridades em Maracás, Bahia
Itamar Pereira de Aguiar e Ivana Karoline Novaes Machado na Odeere: revista do programa de pós-graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Junho de 2017. - Nem teúdas, nem manteúdas: História das Mulheres E Direito na capitania da Paraíba (Brasil, 1661−1822)
Luisa Stella de Oliveira Coutinho Silva, Max Planck Institute For European Legal History, Open Access Publication, Volume 15 - Sobre a tradução dos nomes próprios – algumas reflexões
Luísa Benvinda Pereira Álvares para RUA-L. Revista da Universidade de Aveiro, n.º 5, 2016 - O judeu errante: a materialidade da lenda
Jerusa Pires Ferreira, Revista Olhar, Junho 2000 - Victor Allen Barron: heroico comunista norte-americano assassinado pela polícia de Filinto Müller em 1936
Anita Leocadia Prestes para o Instituto Luis Carlos Prestes, 2019 - Notes toward a politics of location
Aula de Adrienne Rich para a Conferência Mulheres, Identidade Feminista e Sociedade, Utrecht, Holanda, junho de 1984 - A culpa da crise nao é do vírus
Marina Machado Gouvêa in Em tempos de pandemia: propostas para defesa da vida e de direitos sociais (Rio de Janeiro: UFRJ, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Escola de Serviço Social. 2020) - A uberização do trabalho é pior pra elas
reportagem de Julia Dolce para apublica.org (maio de 2019) - O Capital
CAPÍTULO 24: A Assim Chamada Acumulação Primitiva
Marx e Engels - The sexual contract
CAPÍTULO 5: Wives, slaves and wage slaves
Carole Pateman (Stanford University Press, 1988) - Patriarchy and accumulation on a world scale – women in the international division of labour
CAPÍTULO 3: Colonization and housewifization
Maria Mies (Londres, Zed Books 2014) - A marxist case for intersectionality
Sharon Smith para socialistworker.org (agosto de 2017) - How not to skip class: Social Reproduction of Labor and the Global Working Class
Tithi Bhattacharya para viewpointmag.com (outubro de 2015) - The great Caliban: the struggle against the rebel body
Silvia Federici para thecommoner.org (janeiro de 2002) - A história oculta da fofoca
Silvia Federici (Boitempo, 2019). Tradução: Heci Regina Candiani - Mapping Social Reproduction Theory
Tithi Bhattacharya para o blog da versobooks.com (fevereiro de 2018) - Miscigenação nas Vilas Indígenas do Rio Grande do Norte
Fátima Martins Lopes (Revista Mosaico de História, dezembro de 2012) - Original do processo movido contra Lampião
- Comissão da verdade: Gregório Bezerra
- Desarticulado un comando libertario en Barcelona _ España _ EL PAÍS
- Doce detenidos en una operación contra comandos libertarios_ _ España _ EL PAÍS
- Finaliza la huelga de hambre en la prisión de Yeserías _ España _ EL PAÍS
- Jornal Solidaried Obrera
- Disappearance of Henry Bryan
- Longest terrestrial movements around the world
- Atlas der Migration (Rosa Luxemburg Stiftung, 2019)
TEORIA e FICÇÃO
- O processo
Franz Kafka (Lisboa, LeYa, 2009)
Tradução: João Costa e Delfim de Brito - Revolution at point zero – housework, reproduction and feminist struggle
Silvia Federici (Oakland: PM Press, 2012) - Index librorum prohibitorum sanctissimi domini nostri Pii Sexti pontificis maximi jussu editus é uma lista de livros proibidos pela Igreja Católica no século 16, compilada por ordem do Papa Pio VI. Tá por aí pelas internet.
- Memória das mulheres no exílio
Albertina de Oliveira Costa, Maria Teresa Porciuncula Moraes e Norma Marzola, Valentina da Rocha Lima (Terra e Paz, 1980) - Social Reproduction Theory: Remapping Class, Recentering Oppression
editado por Tithi Bhattacharya (Londres: Pluto Press, 2017) - Bahia de Todos-os-Santos, Guia de ruas e mistérios
Jorge Amado (Cia das Letras, 2010)
POESIA
- Omeros
Derek walcot
Original em inglês: Faber and Faber, 1990
Tradução PT-BR: Paulo Vizioli (Cia das Letras, 1994)
Tradução ESP: José Luis Rivas (Editorial Anagrama, Barcelona, 1994) - Libertinagem
Manuel Bandeira (Global Editora, 2013)
TEATRO E TREGÉDIAS kkk
- A pena e a lei
Ariano Suassuna (Nova fronteira, 2019) - A tempestade
William Shakespeare (L&PM, 2022) - Euripides: Iphigenia among the taurians
Tradução: Anne Carson (The University of Chicago Press, 2013) - Eurípides, TEATRO COMPLETO, VOLUME II
Tradução: Jaa Torrano (Iluminuras, 2016) - Héracles, de Eurípides
Tradução: Jaa Torrano
DOI: http://dx.doi.org/10.25187/codex.v6i1.18205 - Seven Tragedies of Sophocles – Electra
Tradução: Robin Bond
University of Canterbury, Christchurch, New Zealand, 2014 - SÓFOCLES TRAGEDIAS
Tradução: Assela Alamillo
Editorial Gredos (Madrid, 1981) - SOFOCLES. ELECTRA: UM PROJECTO DE TRADUÇÃO DE CARLOS ALBERTO LOURO FONSECA
Maria do Céu Fialho, Universidade de Coimbra, HVMANITAS- Vol. XLIX, 1997 - Eurípides – Ifigénia entre os Tauros
Tradução: Nuno Simões Rodrigues
Imprensa da Universidade de Coimbra, Annablume Editora, 2014 - SOPHOCLES – ELECTRA
Tradução: Ian Johnston
Vancouver Island University, Nanaimo, BC, Canada, 2017 - SÓFOCLES – ANTÍGONA
Tradução: Millôr Fernandes (Editora Paz e Terra, 1996) - Trads colaborativas de Agamenon, Antígona, Electra e Heracles que a pessoa encontra por aí pelas internet